Há poucos dias, quase sem querer, escutei a expressão "fazendo esperança". Trata-se de um programa de TV da Fazenda Esperança, de Guaratinguetá, São Paulo, com o título: "Uma Fazenda Esperança, fazendo esperança". Foi para mim a motivação para escrever esta página para O Diário que, de diferentes formas, apresenta este conteúdo diariamente. Bela e necessária iniciativa, ao apresentar, em cada edição, um diário de esperança, em tempos de desesperança.
A Fazenda da Esperança de que falo é uma obra social e religiosa, fundada no Brasil pelo Frei Hans Stapel, em 1979, hoje, com dezenas de unidades espalhadas pelo mundo. É um espaço de acolhimento, cuja missão é recuperar jovens-homens e jovens-mulheres, dependentes de drogas ilícitas e alcoolismo. Um verdadeiro céu para quem já experimentou o inferno, cujo método, a terapia e a pedagogia são: trabalho, como processo pedagógico, convivência em família e a espiritualidade para encontrar o sentido da vida.
Enquanto escutava, ouvia, com atenção, a história de um jovem, testemunhando como a Fazenda Esperança devolveu-lhe a esperança. Ou, dizendo de outra forma: ali, reencontrou a esperança, a dignidade e o sentido da vida. Enquanto relatava, em lágrimas, o que a dependência química e o álcool o fizeram sofrer, refazia-se, com novo alento, quando dizia o que encontrara no novo mundo, depois que um "anjo" o convidou a refazer a vida neste lugar. Quando tomou a decisão foi-lhe pedido que escrevesse, a próprio punho, o pedido de ingresso manifestando os motivos para buscar uma nova vida. Dizia: "fiz o que fez o filho pródigo", enquanto esperava o retorno aos braços do Pai.
Frei Hans é um padre que descobriu sua missão salvando jovens-homens e jovens-mulheres através de uma vida em comunidade, cuja regra é pautada pelo Evangelho, à luz de um carisma, na Igreja, fundado por uma mulher: Chiara Lubich. Frei Hans é incansável e já abriu dezenas de outras fazendas na América, Ásia, África e Europa. Os jovens-homens são acolhidos dos 19 aos 58 anos, e as jovens-mulheres mães são acolhidas com os filhos. Ambos fazem um caminho de acompanhamento, onde o amor transforma vidas, e as famílias ganham um sentido ainda maior.
Com o tempo, os recuperados e ressocializados espalham, pelo mundo a memória do que viveram neste lugar, durante os nove meses em que estiveram no útero da Fazenda, testemunhando, com a vida, a outros jovens, como foi sua via crucis até refazer a vida sem as drogas, multiplicando a esperança a seus pares.
Frei Hans Stapel é um destes homens da velha têmpera, cuja ousadia do Evangelho é testemunhada pela vida, ancorada na esperança e para gerar vida digna aos filhos da terra. Foi, também, ele, o inspirador da abertura da Fazenda do Senhor Jesus, em Ivorá, obra iniciada pela Arquidiocese de Santa Maria, fundada por Dom Ivo, em 1994, com 27 anos de existência, celebrados neste 11 de julho, com centenas de jovens-homens tornados à vida. Depois, a Paróquia Nossa Senhora das Mercês, em São Sepé, fundou a Fazenda Antônio Maria para jovens-mulheres, ambas à luz do Amor Exigente, com iguais resultados.
Esse trabalho meritório precisa ser reconhecido não só em iniciativas da Igreja Católica, mas de outras crenças, pessoas ou grupos que espalham, pela região Centro do Estado, a meta de salvar vidas, como faz a Fazenda Esperança, fazendo esperança.
Texto: Enio José Rigo
Pároco da Catedral